quarta-feira, 20 de novembro de 2013


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Sambaqui de Joinville pode desaparecer por causa da erosão

Sítio arqueológico Cubatão I precisa de uma contenção para evitar ação da água do rio de mesmo nome


Joinville tem em seu território 42 sambaquis tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), dez destes na área urbana.  Os demais estão localizados nas zonas rurais e regiões ermas do município, a exemplo do sambaqui Cubatão I. Considerado o mais importante sítio arqueológico entre todos os já catalogados na cidade, este patrimônio histórico corre o risco de desaparecer, devido à erosão sofrida principalmente pelo movimento das marés no rio Cubatão. “Quase um metro do sambaqui é removido por ano. O processo de erosão está acelerado”, revela a arqueóloga do Museu do Sambaqui, Dione da Rocha Bandeira.
 Museu do Sambaqui/Divulgação/ND
Sambaqui é um dos mais importantes de Joinville

De acordo com ela, o sambaqui Cubatão I é o único na cidade em que foram encontrados artefatos feitos de materiais vegetais, plantas e madeiras. “É normal encontramos nestes sítios artefatos feitos de rochas e ossos, que são materiais mais duradouros, mas os de vegetais são raros. Só foram achados em outro sambaqui da região”, conta. Entre os achados que impressionaram os pesquisadores, estão 83 estacas de madeira usadas, provavelmente, para dar sustentação à base do sítio arqueológico. “São madeiras com as pontas bem trabalhadas”, diz Dione.
Durante escavações, que aconteceram entre 2007 e 2009, os pesquisadores ainda encontraram no sambaqui mais de 20 sepulturas dos antigos moradores do local. Numa delas, havia sido enterrada uma criança, ornada com um colar de conchas. Mas tanta riqueza poderá desaparecer em um curto espaço de tempo, caso medidas de contenção não sejam tomadas.
Dione explica que o sambaqui necessita apenas de um gabão escorando sua parede, semelhante ao utilizado nas rodovias quando existe risco de deslizamento. “A mesma água que permitiu a preservação destes artefatos vegetais, por causa da umidade, agora é responsável pela destruição do sambaqui. Além do próprio efeito natural da erosão, por ali passam muitas embarcações. Não que elas provoquem a erosão, mas a marola causada por elas ajuda a acelerar o processo”, avalia.
O diretor executivo da Fundação Cultural em Joinville, Joel Gehlen, diz que as obras de contenção do rio Cubatão custariam em torno de R$ 200 mil. O problema é que o Iphan não repassa o recurso para preservação do sambaqui. “As águas do rio estão levando embora o sambaqui, talvez o mais importante pelo afloramento de peças líticas e fibras vegetais, bastante raras. O sambaqui é um patrimônio da União, que nós do município zelamos. Mas não estamos tendo contrapartida da União”, afirma Gehlen. 
Dione afirma há alguns meses uma carta foi encaminhada ao CNA (Centro Nacional de Arqueologia), em Brasília, pedindo verba para realizar as obras no sambaqui Cubatão I. Até o momento, não houve retorno.
 Perguntas sem respostas
A arqueóloga Dione da Rocha Bandeira reforça que a região de Joinville é a mais importante do Brasil, e talvez do mundo, em relação à presença de sambaquis. Na Baía da Babitonga, são pelo menos 150 destes sítios arqueológicos. “Este patrimônio é importantíssimo e não é valorizado, nem estudado”, acredita. Segundo ela, em toda a região, apenas 20 sambaquis devem ter sido escavados e estudados mais detalhadamente. Falta incentivo financeiro, inclusive por parte da iniciativa privada.
Dione conta que os três anos de pesquisas no sambaqui Cubatão I já renderam descobertas sobre o povo que habitou o sítio arqueológico, porém algumas perguntas continuam sem respostas.  Os estudos, no entanto, tiveram que ser interrompidos. Além de não terem apoio financeiro, o terreno é considerado instável, devido à erosão. “Não conseguimos mais recurso para continuar a pesquisa, a erosão também acaba deixando o sítio instável e fica arriscada a escavação”, detalha.
Mesmo assim, a partir de análises dos ossos dos “sambaquianos” enterrados no local, foi feita estimativa de que eles viviam em média até os 45 anos, tinham problema de anemia e dentes desgastados por causa dos alimentos abrasivos. Porém não sofriam de cáries. A maioria das sepulturas encontradas era de crianças, curiosamente ornadas com artefatos feitos pelos próprios conterrâneos.
Um dos desafios do Museu do Sambaqui é despertar o interesse da população em conhecer as peculiaridades deste e de outros sítios arqueológicos, contribuindo principalmente para preservação de parte da história. Aqueles que quiserem conferir os artefatos encontrados nas escavações feitas pelos pesquisadores em sambaquis da região, ou tirar dúvidas, podem conferir a exposição “Acervos do Museu”. A amostra está aberta ao público desde julho do ano passado, com entrada gratuita.
 Criadouro de animais peçonhentos
O sambaqui da rua Lothar Cunha, no bairro Comasa, zona Leste de Joinville, transformou-se nos últimos dez anos, segundo moradores mais antigos da região, em criadouro de animais peçonhentos. Ratos, caramujos africanos, cobras e escorpiões, amarelos e pretos, invadem o quintal das residências levando, além de doenças, risco de morte, principalmente para as crianças. “Eu já matei dois escorpiões amarelos no meu muro. Meus dois vizinhos acharam escorpiões, mas a eles deram para a Vigilância Ambiental levar embora. Tem muito caramujo também, estou cansado de colocar sal no canto do muro”, diz o motorista Mário Celso Moura, 56 anos.
Ele teme principalmente pelos dois netos pequenos. Um menino e uma menina, de dois e cinco anos, respectivamente. Moura diz que não pode limpar o terreno coberto pelo matagal, pois está sujeito à multa. Mas a última limpeza feita pela subprefeitura, órgão autorizado a roçar o mato, teria sido feita no ano passado. “Foi a última vez que vieram, tiraram dois caminhões cheios de sujeira. A gente não pode roçar o mato, nem jogar veneno para matar os bichos”, reclama.
Há cerca de um mês, uma cobra da espécie jararaca entrou no quintal da pensionista Marlene Narciza, 64. Ela lembra que ficou de frente com o animal, que deu meia volta e retornou para o matagal. “Mora aqui há 37 anos, já prometeram até fazer um parquinho ali para as crianças brincarem. Meus filhos cresceram, casaram e nada”, reclama.
Outra cobra entrou no terreno da casa de um dos filhos da idosa, Carlos Eduardo Narciza, 24, na última segunda (11). “Que eles pelo menos cercassem o terreno e o mantivesse limpo”, pede o preparador de máquina. Para agravar a situação, Moura revela que os próprios moradores não têm consciência ambiental. Eles jogam no sambaqui restos de materiais de construção e móveis antigos. O diretor executivo da Fundação Cultural, Joel Gehlen, adianta que uma equipe do Museu Arqueológico irá ao sambaqui para uma análise de campo, que irá indicar como deve ser feita a limpeza no local.
Ele também lembra que houve uma reunião com os secretários de cada subprefeitura, em julho, para orientá-los de como deve ser realizado o processo de interferência nestes terrenos. Caso haja necessidade, um técnico do Museu do Sambaqui acompanha os trabalhos de roçada. A população pode solicitar a limpeza destes terrenos ligando para o próprio museu, no telefone 3433-0116.
 Vandalismo
Outra forte ameaça aos sambaquis de Joinville, além da falta de consciência ambiental, é o vandalismo. Joel Gehlen diz que pelo menos dois sambaquis da cidade já foram cercados, para evitar a entrada de usuários de drogas, por exemplo. “No Morro do Ouro, ali no Parque da Cidade, arrancaram as cercas e levaram embora”, conta. O fato aconteceu somente seis meses após o terreno ser isolado.
No sambaqui da rua Guaíra, no Iririú, existem pessoas morando em cabanas improvisadas. “Daqui da minha casa tu consegue ver parte das cabanas. Semana retrasada eu e meu irmão fomos limpar aqui do lado, porque uma cobra se pendurou no meu portão. Tinha aranhas na caixa do correio também”, diz a dona de casa Teka Tonolli.
De acordo com ela, foram recolhidas garrafas vazias e até mesmo camisinhas jogadas no terreno. “Eles vem aqui usar drogas e fazer sexo, temos medo. Aquela placa ali, de proibido jogar lixo, fomos nós moradores que conseguimos”, revela. O diretor executivo da Fundação Cultural disse conhece esta situação e que o órgão tenta prevenir através de trabalhos educativos com a comunidade ao redor dos sambaquis.

Lista dos 42 sambaquis em Joinville
Cubatão I
Cubatão II
Cubatão III
Cubatão IV
Cubatãozinho
Espinheiros I
Espinheiros II
Gravatá
Guanabara I
Guanabara II
Ilha do Gado I
Ilha do Gado II
Ilha do Gado III
Ilha do Gado IV
Ilha dos Espinheiros I
Ilha dos Espinheiros II
Ilha dos Espinheiros III
Ilha dos Espinheiros IV
Iririuguaçu
Itacoara
Lagoa do Saguaçu
Morro do Amaral I
Morro do Amaral II
Morro do Amaral III
Morro do Amaral IV
Morro do Ouro (Parque da Cidade)
Paranaguamirim II
Ponta das Palmas
Ribeirão do Cubatão
Rio Bucuriuma
Rio Comprido
Rio das Ostras
Rio Fagundes
Rio Ferreira
Rio Pirabeiraba
Rio Riacho
Rio Sambaqui
Rio Velho I
Rio Velho II
Rio Velho III
Rua Guaíra
Tiburtius 
Publicado em 19/11/13-09:32

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